Fonte: Agência Câmara
A Comissão de Direitos Humanos e Minorias realiza nesta quinta-feira (6) seminário sobre as diretrizes de comunicação do 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH3). O plano, lançado pelo governo em dezembro de 2009, propõe a criação de um marco legal para garantir o respeito aos direitos humanos nos serviços de radiodifusão, a suspensão da publicidade oficial em emissoras que veiculem programas antiéticos, a implementação de medidas de acesso aos portadores de necessidades especiais em programas de rádio e TV, entre outros pontos.
Ética na TV
No evento, também será lançado o 17º ranking da campanha "Quem financia a baixaria é contra a cidadania". A campanha, lançada em 2002 pela comissão em parceria com entidades da sociedade civil, reúne denúncias e promove ações contra emissoras que veiculem programas que desrespeitem os direitos humanos. No evento de quinta, serão listados os cinco programas televisivos mais denunciados pelos telespectadores nos últimos quatro meses.
O encontro foi proposto pelos deputados Iriny Lopes (PT-ES) e Pedro Wilson (PT-GO). Os parlamentares lembram que a Comissão de Direitos Humanos e Minorias participou de forma ativa da elaboração do PNDH3, que hoje é alvo de polêmica. Segundo Lopes e Wilson, as diretrizes mais criticadas no plano "por segmentos conservadores da sociedade brasileira" foram aquelas que tratam da comunicação.
Dinamização mental
"Quando o teu conhecimento se libertar de qualquer ilusão, então compreenderás a verdade daquilo que ouviste e ainda ouvirás, e te possuirás a ti mesmo imperturbavelmente. Anuviu-se a tua mente e dúvidas se apoderaram de ti; quando deste ouvidos a opiniões contraditórias; quando ela se tornar pura, iluminada e firmemente estabalecida no EU, então atingirás a tua auto realização. Quando alguém permanece calmo e sereno no meio de sofrimentos, quando não espera receber do mundo objetivo permanete felicidade e quando é livre de apego, medo e ódio - então é ele um homem de perfeita sabedoria. Quando não é apegado a um e indiferente a outro; enquanto não se alegra em excesso com o que é agradável, nem se entristece excessivamente com o que é desagradável - então é ele um homem de perfeita sabedoria. Portanto o sábio não se entristece com nada, nem por causa dos mortos, nem por causa dos vivos. Quando os sentidos estão identificados com objetos sensórios, experimentam sensações de calor e de frio, de prazer e de sofrimento - estas coisas vêm e vão; são temporárias por sua própria natureza. Suporta-as com paciência! Mas quem permanece sereno e impertubável no meio de prazer e sofrimento, somente esse é que atinge imortalidade. O que é irreal (ex: amor) não existe, e o que é real nunca deixa de existir. Os videntes da Verdade compreendem a íntima natureza tanto disto como daquilo, q diferença entre o Ser e o parecer. A essencia não pode parecer, nem morre ainda que as formas pareçam. Quem pensa sempre em objetos sensórios apega-se a eles. Desse apego nasce o prazer e o prazer gera inquietação. A inquietação produz ilusão; a ilusão destrói a nitidez da discriminação, esquece-se o homem da sua natureza espiritual - e com isto vai rumo ao abismo. Mas o homem que possui domínio sobre o mundo dos sentidos e da mente, sem odiar nada nem se apegar a nada, orientado pelo Eu central, esse encontra a paz. Essa paz neutraliza todas as inquietações, e o homem que goza de paz, goza verdadeira beatitude - e acaba por superar também os males externos. Homem de perfeita sabedoria é aquele que possui perfeito domínio sobre seus sentidos com relação aos objetos sensórios. "
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Patrões querem autorregulamentação nas atividades de imprensa
Raposa no galinheiro
Fonte: FENAJ
Autorregulamentação é a proposta da hora para os donos da mídia. Apresentada na 5ª Conferência Legislativa sobre Liberdade de Imprensa, realizada nesta terça-feira (04/05) na Câmara dos Deputados e reproduzida em outros eventos organizados por empresários do setor e em grande parte dos veículos de comunicação do país. Defensor da proposta, o 1º vice-presidente da Associação Nacional dos Editores de Revistas (ANER) e diretor do Grupo Abril, Sidnei Basile, atacou a proposta do Conselho Federal de Jornalismo, defendida pela FENAJ e Sindicatos de Jornalistas, caracterizando-a como cerceadora da liberdade de expressão.
Promovida pela Câmara de Deputados em parceria com a Associação Nacional de Jornais (ANJ), Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), a 5ª Conferência Legislativa sobre Liberdade de Imprensa debateu o tema “Mídia e Democracia Representativa".
A proposta apresentada por Sidnei Basile já vem sendo aventada em outros fóruns e eventos organizados pelos empresários de comunicação. Mas ainda não é assumida oficialmente por algumas das entidades. Embora tenha declarado à imprensa que é “francamente favorável”, a presidente da ANJ, Judith Brito, diz que a entidade ainda está discutindo a questão e terá uma posição em breve. Indisfarçável é a identidade entre tal proposição e a manifestação do ministro do STF Gilmar Mendes quando expressou, em 17 de junho do ano passado, seu voto pela derrubada da exigência do diploma como requisito para o exercício do jornalismo.
Sustentando que a autorregulação é uma alternativa de aperfeiçoamento do trabalho da imprensa e de se evitar restrições à circulação de notícias, Basíle apontou a proposta de criação do Conselho Federal de Jornalismo como uma das tentativas recentes de cerceamento à liberdade de expressão. Encaminhado à Câmara dos Deputados em 2004 pelo governo Federal a pedido da FENAJ, o projeto, que recebeu emendas da própria FENAJ, esclarecendo que tratava-se de um Conselho Federal de Jornalistas, foi arquivado após recuo do governo às pressões dos empresários de comunicação e acordo de lideranças da Câmara.
Naquele período, além do CFJ, os donos da mídia combateram a proposta de transformar a Agência Nacional de Cinema (ANCINE), em Agência Nacional do Cinema e Audiovisual (ANCINAV) com o indisfarçável objetivo de evitar qualquer tipo de fiscalização e regulação democrática.
Liberdade de empresa
“A proposição do Basile é a velha posição dos patrões, que confundem deliberadamente liberdade de imprensa com liberdade de empresa”, reagiu o presidente da FENAJ, Sérgio Murillo de Andrade. “A autorregulação que eles querem é a submissão da liberdade de imprensa a seus objetivos políticos e econômicos” completou, sustentando que a proposta do CFJ, mais que um instrumento de valorização da profissão é uma iniciativa para garantir informação de qualidade à sociedade, pautada em princípios democráticos e éticos. Para o coordenador do FNDC (Fórum Nacional Pela Democratização da Comunicação), Celso Schroder os empresários brasileiros seguem na contramão da história. “O mundo inteiro caminha para a definição de regras e normas públicas que assegurem a responsabilidade social da mídia, no Brasil esse debate ou é sabotado ou manipulado grosseiramente pelo empresariado”, denuncia Schroder
Comissão especial da PEC dos Jornalistas será instalada nos próximos dias
Por: Mariana Lourenço
A Comissão Especial que vai dar parecer à Proposta de Emenda à Constituição 386/09, a PEC dos Jornalistas, será instalada nos próximos dias. A Secretaria Geral da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados recebeu, na última quarta-feira (05/05), determinação do presidente da Casa, Michel Temer (PMDB/SP), para solicitar aos partidos que façam as indicações a que têm direito e instalar a Comissão.
O autor da PEC 386/09, deputado Paulo Pimenta (PT/RS), e o presidente da FENAJ, Sérgio Murillo de Andrade, mantiveram contato com Temer no plenário da Câmara dos Deputados na quarta-feira (05/05). Informaram que os partidos e blocos já haviam feito a maioria das indicações e solicitaram a instalação da Comissão Especial.
Aprovada na Comissão de Constituição e Justiça em novembro do ano passado, a PEC dos Jornalistas altera dispositivos da Constituição Federal para estabelecer a necessidade de curso superior em jornalismo para o exercício da profissão. Segundo Paulo Pimenta, o presidente da Câmara revelou que esta será a “última chamada” aos partidos e que a Comissão será instalada mesmo que as lideranças não façam as indicações que ainda restam.
Dos 18 membros titulares que comporão a Comissão Especial já foram indicados 13. Falta a indicação de um titular e 3 suplentes do bloco PMDB/PT/PP/PR/PTB/PSC/PTC/PTdoB, 3 titulares e 5 suplentes do bloco PSDB/DEM/PPS, um titular e um suplente do PV e um suplente do PSOL. O PSB/PDT/PCdoB/PMN já fizeram todas as indicações a que tinham direito (2 titulares e 2 suplentes).
quarta-feira, 5 de maio de 2010
O que prejudica o Brasil
Por: Mariana Lourenço
A direita brasileira continua muito atuante, tem uma agenda própria e articula ataques em várias frentes contra o que pode ameaçar seus interesses. O oligopólio da mídia neoliberal-burguesa expressa exatamente o que quer e o que faz a direita, que atua nas instituições públicas, nos poderes da República, nos bastidores da política e da economia. A direita cuida especialmente da defesa do capital, das vantagens econômicas do empresariado, dos privilégios patrimoniais das elites e do poder político das oligarquias.
Desde o final do ano passado a direita brasileira cerrou fileiras para enterrar de vez o esclarecimento dos crimes praticados pelo Estado na ditadura militar (1964-1985), em especial o que foi suscitado pelo 3º Programa Nacional dos Direitos Humanos, lançado em dezembro, e que levou o presidente da República a fazer alterações ao gosto dos setores mais reacionários. A direita não quer saber de Comissão da Verdade e da Justiça, não quer passar a limpo a história da prisão, tortura, morte e desaparecimento de opositores políticos.
A direita ataca as propostas de democracia participativa, tudo o que possa aperfeiçoar o sistema representativo e assegurar ao povo o papel de sujeito da história. A direita critica a realização de conferências nacionais que possibilitam a formulação de políticas públicas, assim como as propostas de plebiscitos e referendos para as grandes definições nacionais.
Amarrada aos pontos do Consenso de Washington, mesmo com o fracasso e a crise do neoliberalismo em todo o mundo, notadamente na América Latina, a direita brasileira continua defendendo a privatização de serviços públicos, rodovias, portos, aeroportos, educação e saúde – apesar da péssima prestação de tais serviços pelas empresas privadas.
Ao mesmo tempo rejeita, com muita força, todas as medidas que possam melhorar as condições de vida e trabalho do povo brasileiro. No momento, ataca a redução da jornada de trabalho para 40 horas e a mudança nos critérios das aposentadorias. A direita não tem o menor interesse que os trabalhadores conquistem uma vida com dignidade, que as leis trabalhistas sejam cumpridas.
A direita não se importa com a construção de um País mais justo, que assegure igualdade de oportunidade para todos, que amplie direitos, que trate do bem-estar das pessoas antes do lucro e do sucesso das empresas. Conhecer mais sobre a direita é identificar quem realmente tem prejudicado o Brasil.
Esperança de “cambio” na Colômbia
Por: Jadson Oliveira
Depois da vitória eleitoral da direita no Chile e Panamá, da consolidação do golpe em Honduras e da derrota dos Kirchner na última eleição legislativa na Argentina, as forças progressistas e de esquerda da América Latina respiram esperançosas com a perspectiva de mudança na Colômbia, que elege no próximo dia 30 de maio seu novo presidente.
O atual, Álvaro Uribe, que foi derrotado na pretensão de disputar a segunda reeleição, transformou o país no posto avançado do ainda poderoso império estadunidense na região (uma espécie de Israel no Oriente Médio), colocando a Colômbia na contramão da política de integração soberana predominante na América do Sul. Seu governo se manteve ostentando muita força, graças ao apoio financeiro, militar e midiático dos Estados Unidos, apesar do bombardeio sofrido com as constantes denúncias sobre o envolvimento com grupos de traficantes e paramilitares, bem como com a ação de espionagem contra os opositores.
Seu caráter “guerrerista” e terrorista tem sido fundamental para a sua manutenção, daí o boicote às iniciativas que poderiam conduzir a uma política de diálogo e paz com os grupos armados insurgentes, como é o caso das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Tal caráter é, no entanto, escondido pela mídia internacional, incluindo, claro, a brasileira, sempre subserviente às bulas imperiais.
Pesquisa prevê derrota de Uribe
Há uns seis meses atrás seria temeridade se prever a não reeleição de Uribe ou o insucesso de um candidato do seu Partido Social de Unidade Nacional (“Partido de la U”, a sua sigla oficial, o que leva os colombianos a conhecê-lo como “partido de Uribe”). Pois é o que parece estar pintando. Primeiro, a segunda reeleição foi derrubada na Justiça. Agora, a um mês do pleito, o seu candidato, Juan Manuel Santos (seu ex-ministro da Defesa e cuja família é dona de um poderoso monopólio de comunicação), aparece em segundo lugar em recente pesquisa da empresa Datexco, com 26,7% das intenções de voto, segundo matéria do sítio da TV Telesur.
Quem surge em primeiro lugar, com 38,7%, é Antanas Mockus (Partido Verde), filósofo e matemático, ex-prefeito da capital do país Bogotá por duas vezes. No caso do provável segundo turno (eles chamam “segunda vuelta”), Mockus teria 41,5% e Santos 29%, de acordo com a mesma pesquisa.
Quase 10% dos pesquisados preferiram Noemín Sanín, do Partido Conservador. Aparecem mais três candidatos na faixa dos 2% e 3%, entre eles Gustavo Petro, do Polo Democrático, e Rafael Pardo, do Partido Liberal, partido que na pesquisa é apontado como o preferido dos eleitores (neste aspecto, o “Partido de la U” fica também em segundo lugar, enquanto o Partido Verde é o terceiro). Ao todo são nove candidatos, os outros três ficam no 0%.
A Datexco aponta ainda que 3,3% dos quase 30 milhões de eleitores votariam em branco, enquanto 10,6% não sabem ainda em quem votar. A consulta foi aplicada em 37 cidades entre os dias 27 e 29 de abril e foram consultadas 2.225 pessoas. A margem de erro é 2,12%.
Colômbia tem 44 milhões de habitantes. Depois do Brasil, é o país mais populoso da América do Sul. Recentes estudos da sua realidade social indicam a existência de cerca de 19 milhões de miseráveis, dos quais 7 milhões afundados na chamada miséria absoluta. Conselho de Maquiavel em O Príncipe: é conveniente manter o povo pobre e dependente, pois assim é mais difícil ele se encorajar e desafiar o “príncipe”.
JORNALISTAS PERSEGUIDOS NA TV GLOBO
Eu li este texto pela primeira vez em abril de 2007, e resolvi publica-lo aqui por me parecer bem peculiar com a atual realidade das redações nos jornais.
Embora a direção negue, está cada vez mais evidente a perseguição política aos jornalistas que não concordam com a linha editorial da emissora. Leia aqui os bastidores das demissões, das ameaças e da reunião de Ali Kamel com editores do Jornal Nacional num hotel onde a diária não sai por menos de R$ 600,00. E veja também onde o oligopólio da mídia entra nessa história
Por: Marcelo Salles - salles@fazendomedia.com
Avenida das Nações Unidas 13.301. Este é o endereço do novo distrito empresarial da Marginal Pinheiros, onde se encontra o Hotel Grand Hyatt São Paulo, um dos mais luxuosos da cidade. Se você quiser dormir ali, terá que desembolsar no mínimo 600 reais. Por noite. Em compensação, dormirá ao lado de "importantes centros empresariais, comerciais e financeiros, além dos Shoppings Morumbi, Market Place e D&D", como informa a página oficial do hotel na internet. Há outras vantagens. Por exemplo, não é preciso se hospedar na suíte diplomática (R$ 1.600,00 por noite) para desfrutar dos magníficos travesseiros "king-size e edredons de pena de ganso, não alérgicos" ou da "roupa de cama 100% algodão egípcio". Eles estão em todos os apartamentos.
Foi no Grand Hyatt que Ali Kamel, diretor-executivo de jornalismo da TV Globo, decidiu se reunir em meados de março com editores do Jornal Nacional. O encontro-almoço foi realizado no Restaurante japonês Kinu, onde o preço do rodízio por pessoa fica em R$ 60,00. Seu folheto afirma que o "restaurante Kinu oferece um ambiente em que predominam as cores e formas do oriente. Essa atmosfera de modernidade faz um contraponto com a cozinha de Yasuo Asai, chef japonês que procura reproduzir em suas criações a autenticidade da culinária japonesa tradicional. No Kinu, o sabor do Japão está presente nos sushis e sashimis, nos pratos quentes e também no menu de sobremesas, todas sugestões acompanhadas de uma carta de saquês única no país".
Entre um sushi e outro, Kamel deixou claro que seu objetivo era desanuviar o clima. Sempre de maneira muito polida, afirmou que a TV Globo é uma empresa democrática, pluralista e que nunca iria fazer jogo partidário.
O editor de economia do Jornal Nacional em SP, Marco Aurélio Mello, estava presente. Ele havia sido um dos jornalistas a se recusar a assinar o abaixo-assinado preparado por Kamel com o objetivo de negar que a Globo havia tentado influenciar o resultado das eleições. O jornalista, assim como outros que estiveram presentes à reunião, entendeu a atitude de Kamel como uma proposta de trégua. O diretor da Globo chegou a colocar seu endereço eletrônico à disposição da equipe e incentivou que escrevessem sempre que tivessem alguma reclamação.
No dia 23 de março, Marco Aurélio tomou um susto. O chefe de jornalismo em São Paulo, Luiz Cláudio Latgé, avisou que ele estava demitido. Latgé teria dito que após uma avaliação interna de seu trabalho, concluiu-se que seu perfil não era mais compatível com a empresa. Funcionário da casa há 12 anos, Marco Aurélio Mello foi editor do Jornal Nacional durante quatro anos e do Jornal da Globo por outros três. Era ele quem ajudava a pautar Franklin Martins, que ficava em Brasília.
De acordo com um jornalista da TV Globo, que preferiu não se identificar, antes do primeiro turno das eleições presidenciais, Marco Aurélio havia comentado que tinha recebido a orientação de que deveria "pegar leve" com os indicadores econômicos que pudessem ser interpretados como pró-governo.
Estado de choque
No dia seguinte à demissão, 24 de março, Marco Aurélio foi internado às pressas no Hospital Santa Casa de Vinhedo. Segundo um parente, ele estava em "estado de choque devido à crueldade da demissão". Para piorar a situação, sua esposa estava grávida de nove meses e teria o bebê em breve. Marco teve alta no mesmo dia, com a recomendação de manter repouso absoluto, sem se exaltar e sem se submeter a qualquer condição de estresse durante dez dias.
Na segunda-feira, dia 26 de março, escrevi um correio eletrônico para o chefe de jornalismo da TV Globo em São Paulo com as seguintes perguntas: é verdade que o jornalista Marco Aurélio Mello foi demitido por "não se adequar ao perfil da empresa"? Se for verdade, qual seria o perfil da empresa? E se não for verdade, por qual motivo ele foi demitido? É verdade que o Aurélio era um dos jornalistas que não havia concordado em assinar o abaixo-assinado em defesa da cobertura das eleições? É verdade que há um clima de medo entre alguns jornalistas da TV Globo em São Paulo?
Primeiro, recebi uma resposta automática: "Estarei fora a partir deste sábado, 24, e até a próxima sexta-feira, 30, num curso da Fundação Dom Cabral, em Belo Horizonte. Neste período, a Cris Piasentini responde pela Redação". Em seguida, recebi uma ligação da Central Globo de Comunicação. Uma moça muito gentil perguntou se eu havia solicitado informações sobre o Marco Aurélio e eu repeti as perguntas. Ela disse que a única informação que foi passada a ela é que o jornalista foi demitido devido a mudanças operacionais e remanejamento interno da equipe. Insisti um pouco e ela acabou dizendo que a demissão teria acontecido porque a empresa abriu novas vagas. Eu disse que era estranho, porque se a empresa estava contratando, não deveria haver razão para demissões.
Cerca de uma hora depois, Luiz Cláudio Latgé respondeu genericamente às perguntas que eu havia enviado pelo correio eletrônico: "O clima é ótimo na Redação. O Aurélio não foi o único a não assinar o documento. Outros não assinaram e continuam trabalhando normalmente e contamos com eles. Na redação, o clima é positivo, diante dos novos desafios propostos a vários profissionais a quem, por seus méritos, foram confiadas novas missões na Redação".
A versão de Latgé é contestada por mais de um funcionário da TV Globo de São Paulo. Estes insistem que há um clima de medo na Redação, sobretudo entre aqueles que se recusaram a assinar o abaixo-assinado em defesa da empresa. Há quem fale em "caça às bruxas". No mesmo dia em que Marco Aurélio era internado, seu pai, também jornalista, divulgou uma carta de solidariedade em seu blogue: "Um jornalista não pode se sujeitar a coação de assinar manifesto político, com o qual não concorda, ainda que perca sua vida. Daí a minha grande dúvida, nenhum emprego por mais valioso que seja, por mais amor que a ele se tenha, como você tinha, pode ser mais valioso que a própria vida, principal direito inalienável da pessoa humana. Parabéns pela sua atitude".
Contextualizando
Tudo começou no dia 29 de setembro do ano passado. Na antevéspera das eleições presidenciais, um Boeing da Gol caiu e matou 154 pessoas. Foi o maior acidente da história da aviação brasileira. Entretanto, o Jornal Nacional não divulgou a notícia e reservou a maior parte de seu noticiário à cobertura eleitoral, sendo 8 minutos para as notícias sobre o então famoso Dossiê. O sentido das reportagens era claro: prejudicar a imagem do PT e favorecer a candidatura do PSDB.
A revista CartaCapital (18/10/2006), em reportagem assinada por Raimundo Pereira Rodrigues, registrou com detalhes a manobra do Jornal Nacional. Raimundo conta que a TV Globo foi beneficiada pelo delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno, que preparou uma cópia exclusiva do CD que continha as fotos do dinheiro que seria usado para comprar o Dossiê e negociou a exibição do material no principal telejornal da Globo.
Ali Kamel escreveu uma resposta, publicada como matéria paga em CartaCapital e divulgada pelo Observatório da Imprensa. Outros veículos eletrônicos cobriram amplamente a questão e entre 358 comentários de internautas, apenas 21 defendiam Kamel enquanto 337 o criticavam. Não satisfeito, o diretor-executivo de jornalismo da TV Globo fez circular um abaixo-assinado em defesa da cobertura da emissora entre os jornalistas da casa. Alguns se recusaram a assinar e outros solicitaram que seus nomes fossem retirados, após perceberem o uso político que poderia ser feito do documento.
Fontes dentro da emissora revelam que no dia em que o abaixo-assinado circulou na redação de São Paulo, Marco Aurélio tomou a iniciativa de ligar para o chefe de redação, Mariano Boni, pedindo que o nome dele e de outros colegas fossem retirados. Boni, ao sair da sala, teria desabafado diante de um grupo de funcionários: "Quem não estiver contente que pegue o boné e vá para a TV Record".
No dia 19 de dezembro do ano passado, Rodrigo Vianna, repórter especial da TV Globo durante doze anos, foi o primeiro a receber a notícia de que não teria seu contrato renovado. Em uma carta enviada aos colegas, Rodrigo afirmou que o clima estava insuportável. E denunciou que "Nunca, nem na ditadura (dizem-me os companheiros mais antigos) tivemos na Globo um jornalismo tão centralizado, a tal ponto que os repórteres trabalham mais como bonecos de ventríloquos, especialmente na cobertura política!".
Sobre a cobertura das eleições, ele confirmou a manipulação dos chefes. "Intervenção minuciosa em nossos textos, trocas de palavras a mando de chefes, entrevistas de candidatos (gravadas na rua) escolhidas a dedo, à distância, por um personagem quase mítico que paira sobre a Redação: "o fulano (e vocês sabem de quem estou falando) quer esse trecho; o fulano quer que mude essa palavra no texto".
Luiz Cláudio Latgé veio a público responder a carta de Rodrigo. Em seu texto, ele tenta desqualificar o jornalista. Latgé escreve: "Lamento que [Rodrigo] tenha perdido o equilíbrio e tentado transformar um assunto funcional interno numa questão política, que jamais existiu. A confusão de idéias que o Rodrigo Vianna expressa deve ter razões pessoais e compromissos que não nos cabe julgar. Peço desculpas aos colegas pelos ataques e ofensas por ele dirigidos". Em entrevista exclusiva ao Fazendo Media, Rodrigo conta que foi obrigado a pular a catraca eletrônica para poder sair da empresa. "Parece coisa de senhor de engenho". Além disso, o ex-repórter da Globo conta dois episódios em que reportagens suas foram censuradas.
No mesmo período, o comentarista Franklin Martins foi afastado da TV Globo. Durante o período eleitoral, o jornalista demonstrou equilíbrio em seus comentários e se recusou a repetir o coro da maioria dos comentaristas, na linha "o PT inventou a corrupção no Brasil". Antes de sair de férias, Franklin fora avisado que estava tudo bem, que ele poderia ir tranqüilo. Havia a preocupação com dois textos publicados contra ele por Diogo Mainardi, na revista Veja. Quando Franklin voltou, recebeu a notícia de que seu contrato não seria renovado. Em entrevista à Caros Amigos, ele descreveu o momento da seguinte maneira:
"Ó, Franklin, nós fizemos uma pesquisa qualitativa muito grande, vários grupos aqui, todos os jornais, todos os telejornais, todos os âncoras, os comentaristas e tivemos uma surpresa: a sua imagem diante do telespectador é fraca". Eu olhei: "Como é que é?" "É, sua imagem é fraca." [...] me estenderam um papelzinho que tinha uma foto minha e cinco tópicos do que a qualitativa tinha dito a meu respeito. A primeira era assim: "Alguns entrevistados não souberam dizer quem era". A outra dizia: "Fala sobre as coisas da política, as coisas de Brasília". Terceiro: "Dá menos opinião e mais informação" - o que considero um extraordinário reconhecimento do que eu quero fazer como profissional. Quarto: "Faz comentários muito equilibrados" - a mesma coisa. E eu digo: "Bom, e aí?" "E aí nós pensamos melhor, eu pensei melhor, e decidi não renovar o seu contrato." Eu digo: "Espera aí, conta outra!" "Não, não, é isso." "Ó, fulano (pede que não coloquemos o nome), eu saí de férias você dizendo que minha posição é consolidada; agora você diz que saiu numa pesquisa uma coisa assim, todo mundo vai achar evidentemente que tem alguma coisa a ver com o Diogo Mainardi. Tem alguma coisa a ver com isso?" "Eu sou peremptório, não tem nada a ver com isso." "Mas todo mundo vai achar que tem, e aí?" "Não, não." Aí eu olhei: "Então não há o que discutir, mas é o seguinte: tenho o Fatos e Versões pra gravar amanhã, como é que faz?" "Não, você não precisa gravar mais nada na TV Globo." "Está vendo, é alguma coisa diferente de a minha imagem estar fraca, porque, se minha imagem estivesse fraca, talvez você tivesse dito: 'Você não quer ficar na Globo News, fazer alguma coisa?' Não, alguma coisa aconteceu que eu não sei o que é e você não quer me dizer, e acho que devia me dizer." "Não, não." "Então está bom".
Outro que não ratificou a posição da emissora foi o repórter Carlos Dornelles, que pediu para não cobrir política em 2006 porque já havia entrado em conflito com Ali Kamel, de acordo com funcionários da empresa. Em outubro, Dornelles concedeu uma entrevista no Rio Grande do Sul afirmando que "os barões da imprensa deveriam ser investigados". Em virtude de sua afirmação, ele teria sido chamado por Latgé para se explicar. Como não recuou, foi deslocado para o Globo Rural. Outro repórter teria dito para Latgé, na frente de outras pessoas, que a cobertura da Globo estava vergonhosa. Foi colocado na "geladeira".
A emissora vem adotando basicamente duas táticas para remover de seus quadros os jornalistas que não concordam com sua linha editorial. Uma é a desqualificação pública via terceiros, seguida de uma justificativa do tipo "sua imagem não está boa junto ao público". A segunda tática é garantir ao demissionário que está tudo bem, que ele não será demitido. A pessoa se tranqüiliza, continua a produzir normalmente e se sente segura para mostrar sua maneira de pensar - o que certamente será observado pelos chefes. Após esse relaxamento, quando a notícia chega, a pessoa fica sem reação e não consegue articular uma defesa. Não é raro que entre em estado de choque e, conforme sua estrutura psicológica, pode cair em depressão. São raríssimas as atitudes como a de Rodrigo Vianna, que conseguiu colocar o pensamento em ordem e divulgar uma carta revelando as manipulações na cobertura eleitoral da TV Globo. Sua defesa, articulada, causou grande desgaste à imagem da emissora.
Assim como em 1982, durante as eleições para o governo do RJ, e em 1989, para a presidência da República, a Rede Globo usou sua força política para influenciar o resultado de um processo eleitoral. O que na época foi denunciado por observadores externos, agora se confirma a partir da entrevista com Rodrigo Vianna, além de depoimentos de funcionários assustados e demissões de jornalistas que manifestaram sua discordância em relação à linha adotada pela Globo na cobertura eleitoral.
As demissões podem até ser discutidas a partir do caráter privado da empresa. Mas este não é o único. A Globo não é apenas uma empresa privada. É uma empresa privada que opera uma concessão pública e, como tal, deve estar subordinada ao controle público. Além disso, a informação é um bem público e não pode sofrer clivagens de mercado ou ideológicas. Sobre as relações trabalhistas, cabe aos órgãos competentes - Ministério Público, Ministério do Trabalho, Justiça do Trabalho - verificar esses contratos de Pessoa Jurídica cada vez mais utilizados pelas emissoras privadas para fugir dos encargos trabalhistas. O poder público deve coibir e multar as empresas que fazem uso deste recurso, o que acaba mantendo os funcionários sob tensão a cada renovação de contrato.
A questão trabalhista da TV Globo esbarra no problema central da televisão aberta brasileira. Trata-se da existência de um oligopólio composto por seis grupos privados que controlam todo o conteúdo produzido e distribuído num país com 190 milhões de pessoas. Além de contrariar o artigo 220 da Constituição Federal, é sabido que nenhum setor concentrado desta forma pode oferecer uma quantidade satisfatória de empregos ou estabilidade para os funcionários.
Há também um outro aspecto a ser levado em consideração, que diz respeito ao caráter do setor. As empresas de comunicação não são como as indústrias de automóvel, ferro, carvão ou petróleo. Além de produzirem bens tangíveis, que podem ser comercializados (novelas, filmes, esportes, carnaval, etc.), esses artigos possuem um capital subjetivo poderosíssimo. Tão poderoso que conferem a seus detentores a responsabilidade por transmitir formas de sentir, pensar e viver a cada indivíduo e, conseqüentemente, lhes garante o poder de interferir em toda a sociedade. Assim, tanto é possível legitimar editorialmente genocídios quanto erradicar o analfabetismo. Só depende do uso que se faz dos meios de comunicação e, em especial, da televisão.
Como disse Eugênio Bucci, no livro Brasil em tempo de TV, página 17: "O que temos hoje no Brasil, na era da globalização, é ainda o produto daquele velho projeto autoritário: a gente brasileira, condenada à desigualdade, com a pior distribuição de renda do mundo, é o país que vibra unido na integração imaginária: na Copa do Mundo, no final da novela, na morte do ídolo do automobilismo, na 'festa cívica' das eleições presidenciais. Não por acaso, todos esses momentos de confraternização são espetáculos de TV".
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